sexta-feira, 6 de junho de 2014

Walk down the staircase, magnetic pull.

Tá difícil de manter a regularidade por aqui. Eu até tento, mas o cansaço de ter voltado a trabalhar plus o tempo que levo de deslocamento, é simplesmente mais forte do que a minha determinação. Esses dias levei três horas para chegar do meu trabalho até em casa. T-R-Ê-S H-O-R-A-S. Eu teria ido até Resende nesse mesmo espaço de tempo. Não há palavras que descrevam o que eu senti presa naquele ônibus enfrentando o trânsito caótico da cidade que nunca pára. Ou da cidade que está sempre parada. Respiro fundo e digo para mim mesma: só mais três meses, só mais três meses..
O lado bom do meu caos particular, é que sobra tempo para fuçar. Nessas longas viagens diárias, acabo sugando o que posso de imagens e guardando cada vez mais ideias para aplicar em casa. Dia desses topei com uma foto que eu havia visto há muito tempo, provavelmente uma das primeiras que eu salvei com o intuito de fazer em casa quando tivesse o espaço mais apropriado para ela - o qual ainda não surgiu. Uma escada simples de madeira, pintada num tom candy de azul, servindo de cabideiro/varal numa lavanderia.
Foi a primeira vez que vi uma escada sendo usada dessa maneira. Nunca havia passado pela minha cabeça que uma mísera escada poderia ser usada com um fim diferente do que descer/subir degraus. Pensando bem, já havia passado sim, eu que não lembrava.. Quando eu era criança e nós morávamos em Criciúma - sul de SC -, minha família tinha uma casa de praia que enchia nos feriados e finais de ano. Acho até que já mencionei ela por aqui. Nessas nossas temporadas na praia, nosso passatempo preferido era brincar de taco. Todas as crianças da vizinhança se reuniam para jogar. Eu gostava tanto que devo lembrar das regras do jogo até hoje. Mas, nas demais horas vagas, minhas irmãs sempre inventavam algo novo. Lembro do dia que descobrimos um terreno baldio, com uma construçãozinha num canto que acabou servindo para brincadeiras de casinha, com direito a cozinhar comida de verdade. E do dia que transformamos os beliches de um dos quartos num berçário, reunimos todas as bonecas da criançada e fingimos que era uma maternidade. E teve uma vez, que pegamos a escada do beliche, enfeitamos a lateral dela com papel colorido, pegamos um rádio a pilha, colocamos uma fita da Xuxa para tocar, e saímos pela rua fingindo que estávamos num trenzinho da alegria. Várias crianças da rua vieram brincar, cada uma entrava num buraco diferente da escada, segurava a lateral para ajudar a carregar e saía andando por aí. Tinha isso gravado numa VHS do meu pai por aí, não sei onde foi parar. Mas era hilário de ver nossa felicidade com uma coisa tão boba.
Ah se nós apenas soubéssemos o quanto nós éramos criativas. Ainda somos. Mas acho que, naquela época, o nível de "inventatividade" era muito além. A capacidade de olhar para uma coisa e conseguir enxergar nela possibilidades infinitas deve ser uma coisa que toda criança tem, mas que acaba se perdendo com o tempo. Felizes daqueles que nunca perdem, são esses os que nos surpreendem criando coisas lindas a partir das mais simples ideias..


































Há um provérbio chinês que diz: "O grande homem é aquele que não perdeu a candura de sua infância". Eu diria que grande mesmo é o homem que não perdeu a imaginação criativa da sua infância. Talvez, se nós conseguíssemos nos manter mais fiéis às crianças que fomos do que ao adulto que nos tornamos, as coisas seriam melhores. Se não melhores, ao menos mais divertidas.

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